Embora representem quase um quarto da população do país, os brasileiros entre 21 e 34 anos ocupam menos de 8% de espaço na política brasileira, segundo o site Congresso em Foco. Se entrar para a política no auge da juventude é para poucos, o que dizer de conquistar uma vaga sem vir de um berço político?
O “peso do berço” inibe a coragem e os sonhos de muitos que desejam transformar a realidade de sua gente. Poucos remanescentes encaram essa via-crúcis solitária que torna-se a trajetória de um pretenso político sem “tradição”.
No interior de Alagoas, no município de Girau do Ponciano, o filho dos agricultores Gonçalo José da Silva, conhecido como Gonçalo Jiló, e Maria Elza Fernandes da Costa Silva, o jovem publicitário Thales da Costa e Silva, de 32 anos, nutre esse desejo de chegar a governar a cidade em que nasceu.
Em busca desse sonho, Thales tem percorrido Girau do Ponciano ao lado de seu pai, para ouvir a população e apresentar suas propostas. Essa antecipação, tendo em vista que o pleito municipal só acontece em 2016, é necessária, segundo Thales, para se aproximar e conhecer seus futuros eleitores.
Ignorando a distância geográfica que nos afasta, o Portal Lia Pinheiro resolveu bater um papo com Thales da Costa, para tentar entender de onde surgiu esse interesse e como está sendo essa caminhada. Acompanhe:
Portal Lia Pinheiro (PLP): Você não é filho de político. Então, como foi que surgiu esse interesse em entrar nesse “ramo”?
Thales da Costa (TC): Eu tive a oportunidade de trabalhar na área de comunicação em campanhas políticas, chegava a ficar 10 meses trabalhando em Maceió, e, por isso, acabei acumulando conhecimento e entendendo como as coisas funcionam na política. Depois das eleições, observava o comportamento de alguns políticos: uns faziam valer o voto, mas muitos não. Foi aí que percebi que os eleitores eram abandonados logo após o período eleitoral.
Decidi começar a entender melhor a minha cidade, conhecer mais as pessoas, me aproximar dos problemas, das necessidades. Enfim, conhecendo mais a história e o presente da cidade, posso pensar mais sobre o futuro dela. Hoje, não sou político, mas me sinto um agente importante. Estou dando a atenção que as pessoas precisam. O que vou fazer com todo este conhecimento que estou acumulando ainda é uma dúvida; mas já estou muito feliz de poder conhecer cada canto e cada história da minha cidade.
(PLP): Alagoas é um lugar onde a maioria das “novas lideranças” políticas é filho de uma tradicional família política. Você é diferente.
(TC): Não acredito que eu seja um diferencial, até porque nem político eu ainda sou. Mas muitas pessoas tem me pedido para transformar todos este conhecimento que estou acumulando numa candidatura. No entanto, sei que o jogo político tem regras particulares e que precisam ser seguidas e não são fáceis. Mas também sei que se entrar nesse jogo a estratégia e o objetivo final podem ser diferentes. Toda regra tem sua exceção. Nem todo filho de político corrupto será corrupto; assim como nem todo político precisa ser filho de político para ser vencedor. E eu acredito nisso, apesar de saber que as dificuldades são maiores.
(PLP): Você estuda lançar uma candidatura à Prefeitura de Girau. Você não tem interesse em atuar no Legislativo?
(TC): Não estou pensando em poder. Dizem que para ser o gerente de um restaurante, você precisa primeiro saber como se limpa o banheiro, o chão, a panela, como ser garçon, etc. Hoje, estou na fase de conhecer melhor cada canto da cidade, cada família, cada setor, cada necessidade.
(PLP): O que você condenaria na velha política? No jeito velho de fazer política?
(TC): Eu acho que muitos políticos confundem as regras da política e acabam se perdendo. Parece até frase pronta mas é a pura realidade. Político fica 6 meses fazendo campanha, se elege e depois desaparece. Só aparece em época de eleição. Isso tem que mudar. O político tem que conhecer, tem que saber dos problemas, tem que acompanhar de perto o dia-a-dia da cidade. As coisas acontecem muito rápido hoje. Um administrador público tem que estar pronto para os problemas, tem que estar preparado para as criticas, tem que assumir erros. Mas também não adianta surgirem novos nomes na política se não surgirem eleitores mais conscientes, que não vendem voto, que procuram conhecer melhor o seu candidato. Enfim, acredito que o velho jeito de fazer política pode ser combatido com duas coisas: novos políticos e VOTO consciente.
(PLP): Sua família apoiará sua decisão, caso você resolva disputar a Prefeitura de Girau no próximo ano?
(TC): Meus pais sentem muito orgulho de ser de Girau do Ponciano. Cidade pequena é tudo igual: todo mundo se ajuda, você sabe quem casou com quem, quem foi embora da cidade, quem voltou, quem está na dificuldade, quem está doente, etc. Isso é gostoso.
Quando tenho tempo de tomar um café da manhã ou um café da tarde com meu pai e minha mãe, converso com eles sobre as histórias que tenho escutado. É muito bom porque meu pai sempre tem alguma coisa para acrescentar sobre um povoado, um sítio, uma pessoa, etc. A história da fundação da cidade, da construção da cidade, do desenvolvimento dela. Onde era o centro antes e onde é agora. É muito gostoso isso, e meus pais ficam orgulhosos quando vêem que estou conhecendo mais a história que faz parte da vida deles. Estamos nos divertindo muito com isso.
DÉJÀ VU
Vale lembrar que no ano passado, durante a sucessão estadual, um nome também desconhecido da tradicional família política disputou o Palácio República dos Palmares, acabando em terceiro lugar nas votações. O filho de feirantes Júlio Cezar, do PSDB, surpreendeu a todos com seu desempenho durante a corrida eleitoral, antes polarizada entre Renan Calheiros Filho (PMDB) e Benedito de Lira (PR). No entanto, a falta de tempo de tevê e o monstruoso volume de campanha de seus adversários, além do pouco tempo que permaneceu no páreo – já que JC entrou no pleito para substituir o candidato oficial aos “45 minutos do segundo tempo”- , minou a candidatura do tucano, que segue hoje como vereador de Palmeira dos Índios e trabalha para disputar a Prefeitura do município. 
Por: Redação kyara aires
DO 7 SEGUNDOS